INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE DO ESPÍRITO SANTO – ICJ-ES
NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO – LITÚRGICA
QUINTA – FEIRA SANTA – 21.04.2011
“O QUE EU FIZ POR VÓS, FAZEI – O VÓS TAMBÉM”
“Jesus, erguendo-se da Ceia, jarro e bacia tomou, lavou os pés dos discípulos, este exemplo nos deixou. Aos pés de Pedro inclinou-se. Ó Mestre, não, por quem és! Não terás parte comigo, se não lavar os teus pés! – Valdeci Farias – Cd Liturgia III – Cantos Litúrgicos, Paulus, 2000”.
Para início de conversa
No Evangelho de João que proclamamos hoje, Jesus, sendo um judeu educado nas tradições e na sensibilidade de seu povo convida a todos a servirem o Reino de Deus a partir da defesa da vida, lavando os pés uns dos outros, gesto de humildade e de encontro. O Evangelho de João não relata a instituição da Eucaristia, mas mostra Jesus fazendo algo que está bem dentro do espírito da presença que Ele quer no meio de nós. Ele lava os pés de seus discípulos, e apresenta-se como servidor daqueles a quem evangeliza, respeitando o modo de ser de cada um, indo ao encontro. Na celebração desta Nova Aliança ele faz o memorial-presença do amor como sinal definitivo do Pai em nosso meio. Não se fala dela mas, a Eucaristia alimenta a nossa identidade de cristãos: dizendo quem somos, com quem queremos andar pela vida. Jesus é o nosso companheiro de caminhada. Nas palavras da Igreja: somos a comunidade dos discípulos reunidos com Jesus na Eucaristia, hoje, sendo servidores.
Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Jo 13, 1-15.
Jesus está fazendo a sua despedida depois de três anos de formação na convivência e na ação. Como estaria vivendo naquele final do século I a comunidade joanina que reflete o Evangelho de hoje? Com certeza: reduzida, acuada, rachada por problemas internos, mas com a certeza de que o Senhor continuava sempre presente, e por isso era fortalecida por seu Espírito.
E as nossas comunidades hoje? E os nossos grupos de jovens? E a Pastoral da Juventude? Estaríamos vivendo os mesmos problemas hoje?
É necessário olhar com o coração e com a alma para este texto que é carregado de emoção, pois ele trata de realidades sofridas, refletidas e rezadas e que mexem com o nosso ser por exemplo quando olhamos para a sociedade tão violenta e gritamos: “Chega de violência e extermínio de Jovens!”
Encontramos Jesus e o seu grupo, agora bem restrito de discípulos, os mais íntimos, que cabem numa sala, reclinados sobre um tapete. Não há mais conversas, não há debates, somente Jesus é que fala. Ele que liderou o grupo por três anos, está no fim da sua missão, no fim da vida; não quer deixar os seus sem antes recordar-lhes as coisas mais importantes do tempo que passou com eles; aproveita para revelar aspectos novos, fundamentais para a continuação de seu projeto, começando pelo exemplo do serviço ao outro.
Somente no Evangelho de João iremos encontrar a narrativa do lava-pés e uma longa fala de Jesus a seus discípulos, ele não relata a última ceia de Jesus, como fazem Paulo e os evangelhos sinóticos, pois supõe que as comunidades já a conheçam. Está chegando a Páscoa, a Hora de Jesus passar deste mundo para o Pai. É a hora da consumação de sua doação total. É o seu êxodo definitivo. Pela cruz deverá deixar esse mundo e ir para o Pai. Os discípulos continuarão nele e serão os responsáveis pela divulgação de sua obra.
Jesus é o modelo do verdadeiro amor. Ao lavar os pés dos discípulos institui o caminho que garante as relações de igualdade e justiça: o serviço mútuo.
O lava-pés é bem e didático.
Por ser a região quente e empoeirada, lavar os pés dos visitantes era ato costumeiro de cortesia e respeito, realizado por um empregado, pela esposa, filho ou filha e, ao que parece, por discípulos ao mestre. Com Jesus é diferente: é Ele, o Mestre e Senhor, que lava os pés dos discípulos. E nos chama deste modo: “Vocês dizem que eu sou o Mestre e o Senhor. E vocês tem razão...Vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz”.
O gesto do lava-pés é, por excelência, o modelo de comportamento que os seguidores de Jesus deverão seguir. O Mestre e Senhor se faz servo de seus discípulos, também daquele que iria traí-lo. É o modelo de amor incondicional, como revelou toda a sua missão e estadia no meio de nós. É o amor como doação plena. Cai por terra todo espírito de poder, a vingança e toda espécie de violência. Os valores que dominam a sociedade são por Jesus invertidos, constituindo assim uma nova comunidade humana onde o serviço mútuo deve vir sempre em primeiro lugar.
Não pode haver desigualdade na comunidade dos discípulos.
Não pode haver desigualdade na comunidade dos discípulos.
Jesus não quer distâncias entre seus discípulos. Pelo contrário: ter autoridade significa estar a serviço, lavar os pés. Isto vale para todos, iniciantes, militantes e assessores da Pastoral da Juventude, do catequista ao padre, bispo e papa.
Que o lava-pés não seja apenas um rito bonito e fácil de ser realizado na semana santa, mas que haja coerência com as atitudes de acolhida, carinho, respeito, dedicação que quem despe o manto do poder autoritário e de títulos que só querem homenagear.
Lavar os pés significa promover a participação de todos no que diz respeito ao bem da comunidade, cada um com seus dons e na sua função, todos com a mesma dignidade.
O espírito do lava-pés é o serviço, marca registrada do projeto e do comportamento de Jesus perante o seu povo, perante o seu Deus, pois só vive em comunhão quem sabe tratar os outros como irmãs e irmãos.
Emerson Sbardelotti
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Estudante do Curso Superior de Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Coordenador Teológico do Instituto João Maria Vianney – Teologia para Leigos/as da Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Cobilândia, Vila Velha – ES.
Ilustração de Maximino Cerezo Marredo: http://servicioskoinonia.org/cerezo/
Nenhum comentário:
Postar um comentário