quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

CARTA RESPOSTA A UM AMIGO INFIEL!

Carta resposta a um amigo infiel!

Paz e bem.

De qual diocese você é? Participa de qual pastoral? Você é a favor ou contra a TdL e a PJ?

Me fala um pouco aí da sua caminhada.

Lhe digo: não fiz e nem farei citações do e ao Papa João Paulo II e nem do e ao Papa Bento XVI, pois sei que a interpretação que eles deram e dão a Teologia da Libertação não é a mesma em que acredito. Os papas falam e escrevem a partir dos muros de Roma, não vivem de fato a realidade latino-americana, caribenha e brasileira, e isso, com certeza, não lhes proporcionam uma visão do todo da TdL e apenas extratos desta. E todos nós humanos estamos cabíveis aos erros, não importando qual seja o lado que possamos estar. E aqui para nós, segredo hein...os papas não são maiores que o Mestre de Nazaré, por mais que muitas pessoas em Nossa Igreja queiram e desejem que eles sejam, para legitimar certas ações, mas isso já é uma outra questão.
Antes de qualquer Teologia e também da TdL vem a Libertação, vem o anseio e o direito por Liberdade. Em Nossa América este desejo de libertação foi muito forte e evidente no final dos anos 60 e início dos anos 70, quando leigos, padres, religiosas, bispos eram assassinados, por serem a favor da Vida e contrários as Ditaduras Militares, estas, incentivadas e patrocinadas pelos presidentes estadunidenses, que sempre entenderam a Nossa América como um pomar, extensão da sua bandeira, nos negando a liberdade e fazendo propaganda contra contra todo e qualquer movimento popular que pudesse ter uma visão em que o pobre não tomasse o lugar de Deus, mas que o Reino seria primeiro dele.

Leonardo Boff, João Batista Libânio, Frei Betto, José Coblin, Carlos Mesters, Jung Mu Sung, Segundo Galilea, Gustavo Gutierrez, Pedro Casaldáliga, Paulo Evaristo Arns, Hélder Câmara, Rubem Alves, Paulo Freire, Jon Sobrino, José Maria Vigil entre tantos outros pensadores e divulgadores da TdL em seus escritos dizem isso muito bem. Há necessidade de teólogos assim na Igreja. Há necessidade da Teologia da Libertação na Igreja sim. Até porque meu caro, não há mais uma TdL, mas sim Teologias da Libertação e não só mais em Nossa América e também na África, na Ásia, na Oceania.Quando Gustavo Gutierrez e Leonardo Boff foram notificados pela Santa Inquisição, ops, Santo Ofício, ops, Congregação para Doutrina da Fé, e mais recentemente Jon Sobrino, o que se notificou foi toda a obra, ou apenas partes da obra? Partes da obra. Mesmo assim o que se notificou foi o ponto de vista destes autores, que é diferente, não é contrário ao da Igreja...mas dentro da Igreja ainda é muito difícil aceitar o diferente, ir de encontro e estabelecer um diálogo fraterno...e essas incompreensões sempre irão acontecer, infelizmente.

Entendo que Clodovis Boff tenha se manifestado, apontando alguns exageros cometidos pela TdL no passado, foi criticado por todos os teólogos da libertação, mas entendo, que dentro de qualquer movimento, de qualquer grupo, de qualquer equipe, avaliar a caminhada é necessário. Talvez ele esteja passando por crises internas, o que não me assusta, pois todos nós temos crises. Mas não dá para pegar toda a sua obra a respeito da Opção pelos Pobres, sobre TdL, e jogá-la fora, seria infantilidade e burrice. Vejo a crítica como proposta de mudança para os anos que virão. Em que novos teólogos da libertação irão aparecer, não tenha dúvidas disso. Mesmo que os papas não queiram, mesmo que dentro da Nossa Igreja não queiram, a TdL está mais forte do que nunca. Estamos calados mas jamais silenciados. E esse silêncio é que continua a incomodar, pois vez ou outra sai da boca de um padre, de um apresentador, de uma leiga, de um professor, de um bispo que a TdL está morta. Coitados, são dignos de pena, não sabem o que falam. Ela está mais viva do que nunca e sabe por que meu caro, outro segredo, Jesus de Nazaré está a cada dia mais vivo entre nós. Enquanto houver uma única pessoa passando fome, sendo morta a mando ou nos corredores dos hospitais, sendo discriminada por causa da sua cor e opção sexual, de fato o Reino não terá chegado em nosso meio. É por causa do que ele falou e fez na Palestina a mais de 2000 anos que continuamos aqui proclamando a vida e denunciando as injustiças... e esse conceito de justiça é muito anterior a Karl Marx.Infelizmente falta a muitas pessoas na mídia católica, ler de fato os documentos do magistério, os livros dos autores da TdL, para não ficarem repetindo como papagaios bêbados, extratos do todo, e sim puderem dialogar e debater com coerência e respeito, e não como na maioria, por exemplo, dos sites católicos espalhados aí na internet, que chamam tais pensadores da TdL de amigos de Satanás, comunistas, hereges, bispos vermelhos, inimigos de Roma e do Papado...isso no mínimo é inveja, pois não possuem intelecto suficiente para escreverem nenhuma carta, nenhum recado por correio eletrônico, quanto mais um livro sobre determinado tema da Teologia.A RCC não é um movimento novo, está aí a mais de trinta anos. Tem seus pontos positivos e seus pontos negativos. A CNBB já se pronunciou sobre ela e a orientou em documento que pode ser encontrado no site desta.Infelizmente na RCC como em muitas comunidades e equipes há pessoas fundamentalistas, fanáticas religiosas, que querem ser a palavra final, a verdade absoluta, e sabemos que verdade absoluta não existe.A espiritualidade sugerida pela RCC é diferente da espiritualidade sugerida pela TdL, ambas podem conviver muito bem dentro da Nossa Igreja, se seus seguidores souberem diálogar e tentarem perceber que há mais pontos que nos unem do que nos separam.

Não tenho problema nenhum em assessorar e falar da TdL para um grupo da RCC, mas não me converto e nem me converterei a ela nunca, pois sua prática de fé é bem distante da minha.

É mais fácil fazer parte da RCC do que do partido político, do que do movimento popular, do que do MST, pois o compromisso é fundamentalmente subjetivo e individualista, não visa a coletividade, não constrói e nem propõe mudanças na sociedade em que vivemos.

A imagem de Deus sugerida pela RCC não me agrada, não me atraí, não me coloca em oração, nem por isso saio por aí falando mal como vários seguidores da mesma fazem em relação à TdL. E só posso acreditar que a TdL está no caminho certo, pois se há críticas e perseguições...a salvação está próxima, mesmo assim, há muito trabalho a fazer.

Espero ter lhe ajudado.

Na paz militante do Reino da Vida.

Emerson Sbardelotti

Estudante do curso superior de Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Coordenador do Instituto Capixaba de Juventude do Estado do Espírito Santo - ICJ-ES.

Autor do livro: O MISTÉRIO E O SOPRO - roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília:CPP, 2005.

Autor do livro: UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"QUANDO COMEÇAR A ACONTECER TUDO ISSO, ERGUEI-VOS E LEVANTAI A CABEÇA POIS SE APROXIMA A VOSSA SALVAÇÃO"

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA


1º. DOMINGO DO ADVENTO – 29.11.2009


“QUANDO COMEÇAR A ACONTECER TUDO ISSO, ERGUEI-VOS E LEVANTAI A CABEÇA POIS SE APROXIMA A VOSSA SALVAÇÃO ”


“Da terra tão seca já brota uma flor, afagando prantos e gritos de dor. Correntes se quebram, as cercas tombando, uma nova era da história brotando – Manoelão - Cd O Canto das Comunidades – Paulinas”.


Para início de conversa


O Evangelho de Lucas inicia neste domingo a esperança da vinda do Senhor e o Ano C da Liturgia Católica. Lucas não conheceu pessoalmente Jesus, mas sendo discípulo e companheiro de viagem de Paulo, se impressionou com o rosto do Ressuscitado que este trazia consigo após o encontro no caminho de Damasco. Enquanto historiador, descobriu o Cristo no recém-nascido de Belém, no menino dialogando no Templo com os doutores da lei, no profeta que orientou toda sua vida para a morte na cruz em Jerusalém. Lucas impressionou-se com a humanidade do Senhor em Jesus. Seu evangelho irradia a alegria do Senhor em salvar todos os seres humanos. O terceiro Evangelho é atribuído por Irineu de Lião, em 180 E.C., ao parceiro e discípulo do apóstolo Paulo, desde o século II e tem várias características: é objeto de estudo mais complicado do que o de Marcos, ele é produto de um artista literário mais consciente, um homem que escreve em um grego excelente e é capaz de adaptar o estilo à situação, que faz uma narrativa perfeitamente coesa e se dirige a um público capaz de apreciar tais qualidades. O Evangelho de Lucas é o testemunho da passagem do mundo palestino para o mundo helenístico; e ele tem a pretensão de mostrar Jesus e a missão dos apóstolos. Lucas é um cristão gentio de Antioquia, culto e de perspectiva cosmopolita, historiador atento aos seus personagens, que tem um inevitável interesse nas mulheres que seguem ou que se encontram no caminho de Jesus, são apresentadas com grande simpatia. Sua narração tem um caráter particular, uma vez que os acontecimentos relatados são em sua visão, intervenções do Senhor. Lucas escreve uns vinte anos depois da morte de Paulo e não deve ser situado depois dos anos 80-90 E.C.; está em concordância com as datas das viagens de Paulo, entre 55-60 E.C., aproximadamente.
A palavra Advento, foi tirada do vocabulário pagão, e significa chegada ou vinda. É o tempo anterior ao tempo do Natal em preparação à vinda do Senhor; é baseado na espera da vinda do Reino onde a nossa atitude básica é acender as velas do animo e do desejo de sermos de fato discípulos/as - missionários/as.
A Liturgia Católica no Ocidente, nas duas primeiras semanas do Advento, acentua a espera da segunda vinda do Mestre de Nazaré no final dos tempos. Nas duas semanas que faltam, enfatiza-se a preparação pessoal e comunitária para a solenidade do Natal: Maranatha! Vem, Senhor Jesus!
Como dizia minha avó Lavigna: “O melhor da festa é esperar por ela”.

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Lc 21, 25-28.34-36.


No Evangelho de hoje, Lucas utiliza o gênero literário apocalíptico, uma corrente de pensamento e uma literatura surgida em Israel entre os anos 200 a.E.C. e 100 E.C. A apocalíptica é filha e herdeira da profecia. Ela funciona como literatura de resistência. Este gênero não quer falar de coisas que vão acontecer num futuro próximo, mas do presente de nossa existência. É uma linguagem para tempos de grande dificuldade e perseguição, cuja a finalidade é animar as comunidades, as de ontem e as de hoje, para a denúncia profética e para a resistência a tudo o que se opõe a defesa da vida e ao projeto do Senhor em Jesus.
Ao escrever o seu Evangelho, Lucas tem em mente a destruição de Jerusalém ocorrida no ano 70 E.C. que já havia ocorrido, mas as lembranças da matança estavam bem frescas nas mentes e nos corações do povo judeu; mas a impressão que temos ao ler o texto de hoje, é que todas estas coisas estão para acontecer. O fim de Jerusalém não é o fim do projeto do Senhor. O Evangelho não quer apontar o fim dos tempos, até porque, só o Senhor sabe quando será este fim, mas quer nos chamar dentro da história de vida de cada um, cada uma, para que possamos levantar nossas cabeças e ficarmos de pé, pois a libertação se aproxima.
Todos os sinais e símbolos que aparecem no texto são sinônimos da presença do Senhor em favor dos pequeninos, dos injustiçados e de seus aliados. É a própria ação do Senhor na história. E todos que se opõem ao projeto do Senhor na defesa e manutenção da vida em abundância serão julgados, por isso verão o Filho do Homem em seu poder e glória. Quem rejeita hoje as propostas do Reino serão julgados.
Em contrapartida, a vinda do Filho do Homem é salvação para quem está preso a um sistema que explora, que aliena e mata o ser humano em sua dignidade. A libertação é o resgate que o Mestre pagou com o seu sangue na cruz. Por isso os inocentes ficarão de pé e de cabeças erguidas verão a vitória. Mas nada disso acontecerá se não aumentarmos e fortalecermos a vigilância enquanto discernimento do que leva ou não ao projeto do Senhor. Somente com lucidez, senso crítico em relação à sociedade e aos fatos reais da história, é que as pessoas experimentam a presença do Senhor agindo a nosso favor.
A oração é a responsável pela força da vigilância.
Orar sempre, mesmo que seja apenas meia hora por dia. Que cristão eu sou, que liderança de comunidade e na paróquia eu sou, se eu não oro, se não escuto o que o Senhor tem a me dizer, a me pedir, a me sugerir, como proposta de transformação do mundo?
O que estamos fazendo de concreto em nossas equipes, ministérios, pastorais e outros serviços na comunidade, que nos levam a uma vigilância fraterna, serena e responsável?
É a ternura do Senhor da vida que nos coloca de pé diante dela, e por isso somos jogados em sua defesa a qualquer custo. É esta ternura divinal que nos alenta e abre novos caminhos, e fortalece a nossa fé frente aos desmandos dos donos do poder, frente a todas as formas de violência que testemunhamos dia após dia. Muitas vezes ficamos em silêncio, mas não estamos calados. Muitas vezes a chama fica fraquinha, mas ela não se apaga.
Maranatha!

Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Estudante do Curso Superior de Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/
Ilustração de Maximino Cerezo Marredo: http://servicioskoinonia.org/cerezo/

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ANÚNCIO QUERIGMÁTICO

CRISMA: UM HÁLITO DE VIDA!

“Então o Senhor modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”. Gn 2,7.

ROTEIRO 03

ANÚNCIO QUERIGMÁTICO

“Eu vi, eu vi...uma chama se acender...e o coração do meu povo aquecer”.
Zé Vicente

OBJETIVOS

1. Conhecer o Reino de Deus a partir de uma divulgação contínua e incansável da Palavra de Deus, investindo no anúncio querigmático, recomeçando a partir de Cristo para sermos sujeitos da História.
2. Valorizar as experiências de fé e os testemunhos dos evangelizadores e da comunidade cristã, fazendo o Evangelho ser Palavra encarnada na vida daqueles que abraçaram a fé.
3. Favorecer o clima de integração entre os/as participantes.
4. Motivar os/as participantes para a perseverança e para o compromisso.

MATERIAL SUGERIDO
Bíblia aberta. Vela acesa. Incenso. Uma música instrumental de fundo. Cangas coloridas onde todos irão se sentar.

ACOLHIDA

A equipe que preparou o encontro possa estar meia hora antes do início, recepcionando a todos/as com carinho, sorrisos e abraços. Que todos/as estejam descalços/as (faça um cartaz com a frase bíblica que está em Ex 3,5: “Ele disse: Não te aproximes daqui; tire as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa”.) e sejam convidados/as a se sentarem nas cangas, ao redor do altar previamente preparado. Alguém com voz suave e afinada deve entoar um refrão meditativo.

ORAÇÃO
Pai-Mãe de bondade, que nos deu Jesus Cristo, que morreu por nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia para cumprir tudo o que estava escrito, que apareceu aos apóstolos, amigos e amigas, a todas as pessoas que nele acreditaram e que transmitiram até nós a Palavra e a esperança de fazermos parte da sua herança. Dá-nos coragem no serviço do teu povo, isso te pedimos em nome dele, nosso irmão e Senhor. Amém.

DINÂMICA: O QUE É QUERIGMA?
1º. Passo: No centro, próximo ao altar feito em cima das cangas coloridas, coloque um cartaz com a palavra QUERIGMA. Quem anima, pergunta aos participantes quem já ouviu esta palavra, quem sabe o que ela significa? Dê alguns minutos para pensarem e para que possam responder. Anote-se todas as respostas dadas e coloque-as em folhas de papel para que todos/as possam ver.
2º. Passo: Espalhe ao redor do cartaz com a palavra QUERIGMA algumas folhas de papel com as seguintes frases: “PROCLAMAÇÃO DE UM EVENTO HISTÓRICO-SALVÍFICO”; “ANÚNCIO DE VIDA”; “DAS PROMESSAS, DO REINO E DO MISTÉRIO PASCAL”; “ATUALIZAÇÃO DA IRRUPÇÃO DO ESPÍRITO DE DEUS”; “CHEGADA DO REINO DE DEUS”. Dê alguns minutos para que leiam e reflitam cada uma destas frases. Pergunte: “Qual destas frases, na opinião de vocês é o verdadeiro significado de QUERIGMA?”. Anote todas as respostas dadas pelo participante. Suscite o debate e as defesas de cada resposta.
3º. Passo: Comente as respostas dadas e anuncie a resposta correta: TODAS. Observe como irão reagir ao resultado, pois cada um irá tentar fazer valer aquela resposta pela qual mais se identificou.

REFLETINDO JUNTOS

[Quem anima deverá fazer a ligação da dinâmica com o tema do encontro.]

O que é o Querigma?
É a proclamação de um evento histórico-salvífico e de um anúncio de vida. É o anúncio de que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, que se fez ser humano, foi morto e ressuscitou para a salvação de todos/as nós. É o anúncio do nome dele, dos ensinamentos, das promessas, do Reino e de seu Mistério Pascal. É anúncio para manter sempre acesa a chama da fé, atualizando a irrupção do Espírito de Deus que transforma a face da terra e dos seres humanos convertendo seus corações.
É a certeza de que na História da gente a salvação é oferecida.

CANTO

Eu vi, Eu vi – Zé Vicente.

A PALAVRA DO SENHOR

1Cor 15, 1 – 11

REFLETINDO JUNTOS II

[Quem anima oriente a refletirem no silêncio. Se for preciso repetir a leitura, que o faça, mas agora com todos sentados em círculo. Depois convidem a todos/as a falarem em uma frase ou uma palavra o que a leitura impulsiona a fazer. Levar os/as participantes a descobrirem o sentido profundo da leitura, as características marcantes do anúncio querigmático. Deixe o tempo livre para a reflexão, valorizando a participação de todos/as.]

AVALIAÇÃO DO ENCONTRO

Como anunciar de forma eficiente e eficaz no meio da juventude o Mistério Pascal de Jesus?
Como realizar o anúncio querigmático todos os dias de nossas vidas?
O que mais chamou a atenção no encontro de hoje? O que mais preencheu o nosso ser?

NOSSO COMPROMISSO

O tema de nosso encontro de hoje foi: “Anúncio Querigmático”. E agora, quando estamos nos despedindo e voltando para nossos lares, como é sentimos este anúncio em nossas vidas?
Assim como os primeiros apóstolos e as primeiras comunidades se dedicaram em divulgar e em experimentar o anúncio da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, que nesta semana que começa, os participantes possam conversar um pouco com os familiares, amigos e amigas e anotar o que eles sentem sobre o anúncio de Jesus.

DESPEDIDA

Quem anima se despede e faz despedir com muitos abraços e desejos de uma ida e uma volta sempre na certeza que somos filhos, filhas, amados/as pelo Senhor.
E abraçados em círculo, repetem com voz suave a seguinte oração:

CREDO APOSTÓLICO (Ecumênico)

Creio em Deus Pai todo-poderoso,
criador do céu e da terra;
e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor;
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia;
subiu aos céus,
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir e julgar os vivos e os mortos;
creio no Espírito Santo,
na Santa Igreja Universal,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição do corpo,
na vida eterna. Amém.

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Este roteiro é para ser usado pelos grupos de jovens e pelas lideranças juvenis que servem à comunidade na Pastoral da Crisma.
O encontro não está de maneira alguma encerrado, pode ser ampliado e revisado. Contudo, peço, que me enviem tais ampliações e revisões pelo email institutocapixabadejuventude@gmail.com
Quando forem usar este roteiro, sempre, citem a fonte.
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Emerson Sbardelotti
Estudante do curso superior de Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

Os demais roteiros estarão disponíveis no blog do autor:

http://omisterioeautopia.blogspot.com/

e no blog do ICJ- Instituto Capixaba de Juventude:

http://icjinstitutocapixabadejuventude.blogspot.com/

terça-feira, 6 de outubro de 2009

FALAR DE DEUS HOJE

FALAR DE DEUS HOJE
– considerações a partir da ação pastoral -

Introdução

“Quando quero rezar e não há uma Igreja por perto, me ajoelho em frente a uma árvore e rezo”.
Cartola

Não há possibilidade de se falar de Deus hoje em dia, sem se deixar tocar por Deus e a partir deste toque agir, na pastoral: em nossos grupos, comunidades, paróquias e dioceses. A partir do hálito de vida soprado em nossas narinas por Ele, nossa sensibilidade se recusa a ver a condição humana fora da relação com o cosmo: com toda a criação, com todos os seres viventes. É fazer valer o pedido do salmo 27,4: “Uma coisa peço a Iahweh, a coisa que procuro: é habitar na casa de Iahweh todos os dias de minha vida para gozar a doçura de Iahweh e meditar no seu templo”. [1]
Leonardo Boff, afirma que, “nós brasileiros, mais do que um povo religioso, somos um povo místico. Nós não acreditamos em Deus, isso é coisa dos europeus, nós sentimos Deus. Sentimos Deus na pele, no corpo, e por isso toda hora falamos: vá com Deus...fique com Deus...Deus está dentro do nosso cotidiano na vida. Não dá para entender o mundo sem colocar Deus dentro. Jesus Cristo apresenta Deus como Abbá, um pai que tem as características de mãe. Como uma galinha que cuida dos pintinhos, como o pai do filho pródigo que acolhe o filho: olha na esquina, ele está chegando, corre ao encontro cheio de misericórdia, isto é, cheio de entranhas, coisas que as mulheres têm. É um Deus-ternura, mais mãe do que pai, ou então um pai-maternal e uma mãe-paternal... Encontrar Deus não só nas Escrituras Sagradas, nos textos da Tradição, na hóstia consagrada, no cálix bento, mas encontrar Deus na natureza, na pedra, no sol, encontrar Deus nos pobres, de tal forma que abraçando o mundo, está se abraçando Deus”. [2]
Falar de Deus hoje deve ter o ponto de partida na realidade em que estamos plantados, na realidade em que somos adubados, na realidade em que brotam os frutos da nova estação, na realidade em que devemos ser podados e cortados para que uma nova vida germine. Esta realidade compreende um mundo em que a economia é globalizada e excludente, a técnica é acelerada, a comunicação é sem fronteiras e há um rápido crescimento do pluralismo religioso. E podemos dizer que o tempo ainda não é o de negar a razão, mas não podemos viver a ditadura da razão...a dor do mundo está aí na nossa frente...os valores não são animados e empurrados somente pela ética, mas sim pelo coração, pelo sentimento, que está diretamente enraizados na concepção que temos de Deus. O mundo é partilhado vergonhosamente pelo G-8 e cortejado pelo G-20, sendo que, quem deveria estar tratando dos assuntos referentes a humanidade e a vida do Planeta seria a ONU, mas isso, infelizmente é um sonho, que tão cedo não veremos realizado...mas, precisamos estar atentos como as virgens prudentes do Evangelho.
Falar de Deus hoje é não esquecer as nossas matrizes culturais: indígena, européia e africana. Elas nos lembram todos os dias que somos o povo mais propenso ao diálogo e ao encontro, pois estamos juntos e misturados na dinâmica da vida. Somos como o trabalho das mulheres na produção da panela de barro em Goiabeiras, Vitória/ES; que tiram do barro, do mangue e das árvores do mangue, o necessário para moldarem o símbolo que ilustra tão bem a cultura capixaba e que embeleza a culinária deste mesmo povo; é um trabalho honroso e divinal, que mantêm viva a memória daquelas outras tantas paneleiras que iniciaram a tradição da fabricação das panelas de barro conhecidas mundialmente. E elas são descendentes de indígenas, de europeus, de africanos e por isso, a moqueca capixaba é a melhor moqueca do mundo e o sexto melhor prato para ser apreciado segundo a OMS, pois não engorda, e é leve...mas, na raiz de tudo isso está a disponibilidade, o empenho e a garra de gerações inteiras de mulheres, que assim como Sefra e Fua, ajudam a darem à luz o sonho da posteridade; e ao perpetuarem este sonho, e ao fazerem feliz todo um povo, e se aproximam muito de Deus e vêem a Deus mais do que a maioria de nós.
Falar de Deus hoje é percorrer, é saborear, todo o projeto de salvação, em que sua prática e pedagogia libertadora, está implícita e explicita na Primeira e na Segunda Aliança, no Concílio Vaticano II, nas conferências de Medellín, Puebla e Aparecida, fazendo em nós uma transformação, impulsionando para a prática pastoral: Para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Que rezem, orem o Pai Nosso, mas, reivindiquem a justiça e a solidariedade do Reino, o Pão Nosso.

1 - Quem, afinal, é Deus?

“Nosso Deus é o artista do Universo. É a fonte da luz, do ar, da cor. É o som, é a música, é a dança. É o mar, jangadeiro e pescador. É o seio materno sempre fértil, é beleza, é pureza e é calor”.
Zé Vicente

Ele sempre irá responder: “Eu sou aquele que é!” (Ex 3,14).
Ele é realidade transcendente. Sendo transcendente nunca saberemos de fato o que ou quem é Deus, só sabemos daquilo que não é, pois a nossa idéia de Deus é sempre limitada. Deus está além de tudo que possamos sonhar ou pensar ser Deus. Mas o desejo que possuímos é o de que da mesma forma que Jesus, nós também possamos crescer em graça e em sabedoria, por uma intimidade profunda com Ele, onde a nossa existência será inspirada e portanto poderemos chamá-lo de Abbá.
Na América Latina e no Caribe, diferentemente da Europa, Deus é aquele que escolhe os pobres (não são os pobres que escolhem a Deus), pois aqui, neste Continente, a pobreza é institucionalizada. Somos um Continente de hapirus (os mais pobres - pessoas desalojadas, sem terra, excluídas nas cidades e nos campos), onde desde cedo, por causa do batismo, alimentamos a vontade de construir uma sociedade distinta, sem exploradores e explorados; uma terra sem males.
O Deus que foi passado para a geração que nasceu no Brasil nos anos 70 e era jovem nos anos 80 do século XX, foi o Deus da Teologia da Libertação: divinamente humano, humanamente divino; próximo ao seu povo, em suas lutas, em seus sorrisos, em seus martírios. Um Deus que entrava nas casas através da Bíblia traduzida para o português e nas mãos do povo...e lá ia o povo se reunir debaixo de uma árvore, para se ver, sorrir e celebrar a vida, de um jeito simples, despojado, de analfabetos à homens novos, de analfabetas à mulheres novas. Eram as comunidades eclesiais de base se espalhando por todo o Brasil, sofrendo na pele, perseguições, tal qual as Primeiras Comunidades, por causa do Reino, sendo a voz profética num tempo em que o milagre era economicamente favorável às elites nacionais, fazendo com que os ricos se tornassem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Foi um período profético. Deus caminhava junto. Ele via a miséria do povo, ouvia seu grito por causa dos seus opressores e descia afim de libertar... cuidava das feridas e soprava, beijava e abraçava, e os agentes de pastoral iam em frente, havia um ardor missionário contagiante, pois acreditar em Deus sempre foi uma opção de vida. O convite para participar da messe era feito, muitas vezes, com o testemunho daqueles que tombaram e daqueles que insistiam em continuar, mas aceitar ou não, sempre foi uma escolha pessoal. Antes do Concílio Vaticano II, se tinha uma atitude de fé que levava a acreditar em Deus, envolvendo razão e levando o ser humano a aprender uma doutrina, esta por sua vez conduzia a um saber sobre Deus e nada mais. Com o Concílio Vaticano, Medellín, Puebla e Aparecida, a atitude leva a comprometer-se com Deus, envolvendo todo o ser, este desenvolve uma prática de vida que o conduz a uma conversão, a uma mudança, de dentro para fora.
José Maria Vigil no que refere a ação pastoral nos diz que, “para o Jesus histórico o Deus do Reino é o centro, e não há nenhuma outra mediação para ele senão a promoção de seu próprio Reinado. A missão de Jesus não é outra senão o anúncio e a promoção desse Reino. (...) Na linguagem do evangelho de Jesus, Deus é sempre o Deus do Reino, e o Reino é sempre o Reino de Deus, de forma que o teocentrismo e reinocentrismo se implicam mutuamente. (...) Esse foi o tema de sua pregação, sua obsessão, seu sonho, a paixão que o movia, a causa pela qual viveu e lutou, aquilo que em sua vida teve valor absoluto para ele. A figura de Jesus não foi a do fundador de uma religião ou de uma Igreja, e sim a de um profeta apaixonado pelo Reino de Deus, causa última que o fez viver e morrer”. [3]
O Deus que aparece na história de Abraão, de Moisés, de Elias, de Rute, de Débora, de Maria, de Jesus, de Tiago, de João, de Paulo, de Lucas, de Priscila, de Maria Madalena, e outros, não são os ritos religiosos, mas os atos concretos. O que foi ouvido por Abraão, também é ouvido por nós hoje.
“A ação de Deus se dá através da nossa ação. E pode se perguntar: “Deus faz milagre na História?”. Faz! Mas jamais fora das coordenadas da História.” [4]

2 - Um Deus para hoje

“No chão da vida nasce o Povo de Deus. No Deus da Vida nasce o Povo dos Céus”.
Emerson Sbardelotti / Lula Barbosa

Qual é a imagem de Deus que nós temos?
Qual é o conceito que temos de pastoral?
Perguntas importantes para a nossa caminhada enquanto seres humanos, para o nosso artigo, para a nossa vida em grupo, em comunidade.
A imagem de Deus na Primeira e na Segunda Aliança que proponho e que se aproxima mais de uma pastoral comprometida com o Reino é esta:
Na Primeira Aliança, o grande perigo para Israel era contaminar Iahweh com os cultos da fecundidade. A paternidade divina surge fundamentada na saída do Egito. Como dissemos anteriormente, Deus escolhe os hapirus. Os profetas usarão expressões cheias de ternura para significarem esta paternidade, que na verdade é maternidade.
Na Segunda Aliança, teremos a experiência fundante do Abbá em Jesus. Esta vivência constitui a intimidade original e profunda de sua personalidade. Por causa dela Jesus cria uma reação em cadeia contaminando todo o seu grupo de amizades, levando-os à radicalidade infantil de chamar Deus de papai, uma experiência única. Deus é para sempre definido como paternidade revelada e entranhável, como fonte de ternura e confiança. Deus é o que alimenta o mistério em Jesus e a partir deste se abre para todas as criaturas.
Fuentes nos diz que “etimologicamente, o termo “pastoral” deriva de pastor. No início do seu uso (finais do século XVIII e princípios do século XIX) referia-se basicamente à doutrina e prática de formar pastores (presbíteros), e ao modo de realizar o ofício da cura animarum (cuidado das almas) próprio do pároco. A partir daí, este conceito foi evoluindo, ganhando grande variedade de significados, alguns reducionistas, outros ambíguos ou mesmo errôneos”. [5]
Uma nova imagem para Deus hoje, uma nova pastoral para hoje, só terá sentido, se primeiro, quem busca seus significados, souber o que enquanto ser humano significa. Os profetas da Primeira Aliança e o próprio Jesus sabiam muito bem o que significava ser judeu naquele momento da história da humanidade e a missão que tinham a realizar. Sentiam muito bem a imagem de Deus que os animava.
Falar hoje de uma nova imagem de pastoral num mundo globalizado é mais complicado do que se imagina. Com o advento da internet, as juventudes, não se colocam mais a disposição para o exercício da fé em comunidade...o sagrado está no shopping center e a virtualidade é mais próxima do Deus espiritualizado que imaginam para si. Apesar de conhecerem e saberem o que é um pastor e seu ofício, eles residem em sua maioria em cidades populosas, onde dificilmente verão rebanhos e montanhas ao estilo clássico bíblico, portanto o discurso do Bom Pastor, por exemplo, irá soar apenas como mais uma fábula ou como um preceito moral de fim de história que os mais velhos contam ou contavam.
Mas há também as juventudes que se sentem atraídas por Deus e estão se colocando à disposição nas mais diversas equipes e pastorais. E conscientes do papel que desenvolvem, vão dando um novo vigor à caminhada de suas comunidades, paróquias, dioceses, independente se são ou não apoiados pela hierarquia, o que sempre representou um grande problema, principalmente para as Pastorais da Juventude, mas que também sempre foi encarado como desafio a ser vencido...e foram e venceram. Olhe a quantidade de jovens que participaram do último Intereclesial das Cebs, acontecido em Porto Velho, em julho de 2009, e que estão se mobilizando para participarem do Encontro Nacional de Fé e Política em Ipatinga, em novembro de 2009 e para o Fórum Social Mundial na Grande Porto Alegre em janeiro de 2010. O Espírito de Deus sopra sempre onde ele quer. Não há como controlar. Só podemos sentir e nos maravilhar e seguir em frente.

Conclusão

A experiência de Deus é senti-lo em intimidade profunda, amorosa, através da fé em Jesus e colocado em prática nas ações comunitárias em que estivermos inseridos. O encontro e o diálogo com Deus na oração nos impulsiona todos os dias a irmos na busca do irmão, do outro. Pois Deus se manifesta na realidade humana, em sua cultura e em sua história sem excluir ninguém. Ele aglutina, sorri, se compadece, abraça e beija. A ação pastoral enquanto serviço emanado do amor é uma autêntica vivência de Deus.

____________
[1] BÍBLIA de Jerusalém – nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.
[2] PROGRAMA Sempre um Papo – Leonardo Boff. Belo Horizonte: 2009.
[3] VIGIL, José Maria. Teologia do Pluralismo Religioso – para uma releitura pluralista do cristianismo. São Paulo: Paulus, 2006.
[4] TAVARES, Emerson Sbardelotti. O Mistério e o Sopro – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
[5] FUENTES, Salvador Valadez. Espiritualidade Pastoral – como superar uma pastoral “sem alma”?. São Paulo: Paulinas, 2008.


Emerson Sbardelotti
emersonpjbes@hotmail.com

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

"A HISTÓRIA DE CADA UM/A DE NÓS".

CRISMA: UM HÁLITO DE VIDA!

“Então o Senhor modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”. Gn 2,7.

ROTEIRO 02

“A HISTÓRIA DE CADA UM/A DE NÓS”.

“E a criança tão humana que é divina. É esta minha quotidiana vida de poeta, e é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre”.
Fernando Pessoa

OBJETIVOS

Procurar conhecer um pouco da história de vida de cada um/a dos/as participantes a partir da criação da árvore genealógica.
Valorizar as diferenças e aceitar os limites de cada um/a.
3. Favorecer o clima de integração entre os/as participantes.
4. Motivar os/as participantes para a perseverança e para o compromisso.

MATERIAL SUGERIDO

Fotos dos/as participantes (solicitadas ao final do último encontro; que seja em um tamanho bom para que todos/as possam visualizar e irem identificando-se; se for preciso coloque o nome atrás.), estas devem ser colocadas em círculo ao redor do altar, cangas coloridas colocadas no chão, bíblia, vela, incenso, música de fundo (repetindo várias vezes): Um Certo Galileu – Padre Zezinho, scj.




ACOLHIDA

A equipe que preparou o encontro possa estar meia hora antes do início, recepcionando a todos/as com carinho, sorrisos e abraços. Que todos/as estejam descalços/as (faça um cartaz com a frase bíblica que está em Ex 3,5: “Ele disse: Não te aproximes daqui; tire as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa”.) e sejam convidados/as a se sentarem nas cangas, ao redor do altar previamente preparado. Alguém com voz suave e afinada deve entoar um refrão meditativo.

ORAÇÃO

Pai-Mãe da história, da nossa e de todos os povos da Terra.
Abençoa nossos passos e os caminhos que iremos trilhar na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e humana.
Santifica-nos pelo teu Espírito para que possamos dedicar toda a nossa vida a ti, com fez Jesus Cristo, nosso irmão, teu Filho, nosso Senhor. Amém.

DINÂMICA: A ÁRVORE

1º. Passo: Todos/as os/as participantes recebem uma folha de papel em branco, lápis, caneta ou pincel.
2º. Passo: Quem anima, pede para que os/as participantes acompanhem as orientações enquanto desejam. Haverá participante dizendo que não sabe desenhar, não ligue para isso, motive para que todos/as cumpram a tarefa.
3º. Passo: Peça aos/as participantes que desenhem a raiz de uma árvore e coloque aí a data do seu nascimento, o nome do pai, da mãe, do avô, da avó, do irmão, da irmã, do/a melhor amigo/a e de um acontecimento que marcou a vida de zero a cinco anos de idade.
4º. Passo: Peça aos/as participantes que desenhem o tronco da árvore e nele anote a motivação que lhe faz crescer enquanto jovem, enquanto ser humano.
5º. Passo: Peça aos/as participantes que desenhem as folhas, flores e frutos e escrevam os sonhos, as utopias e as esperanças que carregam no peito.
6º. Passo: Peça aos/as participantes que coloquem o próprio nome na árvore e que escolham uma outra árvore (colega), com quem irá partilhar o que foi escrito.
7º. Passo: Depois do cochicho, partilhar no grupo.

REFLETINDO JUNTOS

[Quem anima deverá fazer a ligação da dinâmica com o tema do encontro.]

Quais foram os sentimentos descobertos com esta dinâmica?
O que está faltando na história de cada um, cada uma de nós?
Nossas árvores são frutíferas? Nossas sombras conseguem acolher a quem as procuram?
Cada ser humano é um ser em construção, é um ser diferente dos demais seres e por isso mesmo, se torna tão apaixonante e apaixonado.
Cada ser humano tem a sua missão, mas a primeira missão, a mais importante é se auto-conhecer. Somente quando nos conhecemos em nossa profundidade, no nosso íntimo, é que podemos partir a passos largos em direção ao outro e viver emoções seguras e verdadeiras, com respeito e diálogo sincero.
Buscar na mente o nome de nossos antepassados não é uma coisa muito fácil, pois não temos a prática que possuem os Povos Indígenas do Continente americano, eles lembram de todos os nomes de seus antepassados, pois ao lembrarem conseguem se manter vivos, ao lembrarem entram em sintonia com a Mãe-Terra, e nesta comunhão conseguem tocar em frente as suas vidas. Buscar na mente e no coração o nome e as feições de pessoas queridas que já se foram, nos remetem ao fato de que nossa estadia nesta terra é curto, e por isso mesmo, precisamos viver com sabedoria e dignidade.


CANTO

Minha História – Chico Buarque.

A PALAVRA DO SENHOR

Mt 1, 18 – 25.

Quem anima pode fazer toda a turma viver uma cena teatral desta leitura, aparecem Maria grávida de Jesus, José seu esposo, o narrador e o anjo do Senhor. As falas ficam apenas para o narrador e o anjo do Senhor. Os/as leitores/as (escolhidos com antecedência) procurem proclamar a leitura com suavidade e clareza as palavras. Os personagens acima nada falarão, apenas com o olhar, com o semblante e com gestos serenos.

REFLETINDO JUNTOS II

[Quem anima oriente a refletirem no silêncio. Se for preciso repetir a leitura, que o faça, mas agora com todos sentados em círculo. Depois convidem a todos/as a falarem em uma frase ou uma palavra o que a leitura impulsiona a fazer. Levar os/as participantes a descobrirem o sentido profundo da leitura, as características marcantes de cada personagem. Deixe o tempo livre para a reflexão, valorizando a participação de todos/as.]

AVALIAÇÃO DO ENCONTRO

Como será a partir deste encontro contada e recontada a história de cada um/a de nós? Acrescentaremos ou tiraremos nomes de nossas árvores? Por que?
O que levamos de incentivador para nossos lares? Como faremos para repetir a experiência do encontro nos nossos lares?


NOSSO COMPROMISSO

O tema de nosso encontro de hoje foi: “A história de cada um/a de nós”. E agora, quando estamos nos despedindo e voltando para nossos lares, como é sentimos o Senhor nas nossas histórias de vida?
Maria disse sim ao Senhor para que Jesus viesse ao mundo e se tornasse o Deus Conosco. José, quis repudiá-la em segredo. Foi preciso a intervenção amorosa do anjo do Senhor, para que ele entendesse o projeto de vida traçado para a humanidade. Como é que cada um/a de nós hoje entendemos este projeto de vida?
Durante a semana poderíamos procurar na Bíblia, precisamente nos Evangelhos, os modelos de projeto de vida que o Senhor indicou por meio de Jesus para o povo de Israel. Depois de identificados, como é que poderíamos atualizá-los para os nossos dias atuais?
E anotar o que descobriu e o que atualizaria numa folha de papel para que possa ser pregada num varal no próximo encontro, e lido por todos/as.

DESPEDIDA

Quem anima se despede e faz despedir com muitos abraços e desejos de uma ida e uma volta sempre na certeza que somos filhos, filhas, amados/as pelo Senhor.
E abraçados em círculo, repetem com voz suave a seguinte oração:

ORAÇÃO A CRISTO
“Nós te seguiremos, Senhor Jesus.
Mas para que te sigamos, chama-nos.
Pois, sem ti, ninguém caminha.
Tu és, com efeito, o caminho, a verdade e a vida.
Recebe-nos como estrada acolhedora,
acalma-nos como só a verdade pode acalmar.
Vivifica-nos porque só tu és a vida”.
Santo Ambrósio (340 – 397 E.C.)

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Este roteiro é para ser usado pelos grupos de jovens e pelas lideranças juvenis que servem à comunidade na Pastoral da Crisma.
O encontro não está de maneira alguma encerrado, pode ser ampliado e revisado. Contudo, peço, que me enviem tais ampliações e revisões pelo email institutocapixabadejuventude@gmail.com
Quando forem usar este roteiro, sempre, citem a fonte.


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Emerson Sbardelotti
Estudante do curso superior de Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.


Os demais roteiros estarão disponíveis no blog do autor:

http://omisterioeautopia.blogspot.com/

e no blog do ICJ- Instituto Capixaba de Juventude:

http://icjinstitutocapixabadejuventude.blogspot.com/

terça-feira, 22 de setembro de 2009

"VOCÊ FOI ESCOLHIDO/A PELO SENHOR"

CRISMA: UM HÁLITO DE VIDA!

“Então o Senhor modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente”. Gn 2,7.

ROTEIRO 01

“VOCÊ FOI ESCOLHIDO/A PELO SENHOR”.

“A essência de Deus não é a solidão, é comunhão”.

Papa João Paulo II

OBJETIVOS

1. Expressar a alegria de saber que é o Senhor quem escolhe e chama para experimentarem o Sacramento do Crisma na fraternidade em comunidade, nos diversos serviços, nas diversas pastorais e movimentos.

2. Favorecer o clima de apresentação e o entrosamento entre os/as participantes.

3. Salientar que o Crisma não é apenas mais um sacramento, mas com ele, somos fortalecidos no e pelo Espírito.

4. Motivar os/as participantes para a perseverança e para o compromisso.

MATERIAL SUGERIDO

Bíblia (aberta de preferência na leitura escolhida para este encontro); cartazes com frases bíblicas relacionadas ao encontro; cangas coloridas espalhadas pelo chão; música instrumental; vela acesa; bacia e ou alguns potes com água; uma toalha para serem enxugadas as mãos; argila; incenso (que deverá ser aceso antes da chegada dos/as participantes, criando um clima de silêncio e contemplação).

ACOLHIDA

A equipe que preparou o encontro possa estar meia hora antes do início, recepcionando a todos/as com carinho, sorrisos e abraços. Que todos/as estejam descalços/as e sejam convidados/as a se sentarem nas cangas, ao redor do altar previamente preparado. Alguém com voz suave e afinada deve entoar um refrão meditativo.

ORAÇÃO

Pai-Mãe de bondade, de carinho e amor.

Seus filhos e filhas estão aqui reunidos, escutaram o teu chamado e dispostos a lhe servir compareceram, felizes e motivados/as.

Se é do teu agrado, fortalece-nos no teu Espírito e conduza-nos a um outro mundo possível, agora e sempre. Amém.

DINÂMICA: O EU DE ARGILA.

1º. Passo: Todos/as sentados/as em círculo, no chão, bem à vontade. Aos poucos quem anima o encontro, vai pedindo que silenciem e se concentrem na argila que será entregue a cada um, a cada uma.

2º. Passo: Cada participante recebe uma quantidade suficiente de argila. Com esta, passa a modelar a si próprio, como se vê enquanto criatura do Senhor e enquanto ser vivente.

3º. Passo: Se possível, manter durante o processo de modelagem, a concentração e o silêncio.

4º. Passo: Expor a criatura criada, o eu de argila para os/as demais participantes. Destacar as características mais importantes e outras mais comuns como: nome, idade, escolaridade, estado civil, em que gostaria de trabalhar, planos para o futuro, etc. {É o momento em que os/as participantes irão se apresentar }.

5º. Passo: Deixar que o grupo partilhe o que foi experimentado: o que mais chamou atenção na dinâmica?

REFLETINDO JUNTOS

[Quem anima deverá fazer a ligação da dinâmica com o tema do encontro.]

O Senhor convoca a cada um, a cada uma de nós, desde o ventre materno. Nós não escolhemos o Senhor, é Ele quem nos escolhe e acolhe. É Ele que nos anima a caminhar e ir de encontro ao outro.

Somos filhos e filhas de um Deus da Vida, de um Deus amoroso, carinhoso, bondoso, misericordioso, que está sempre criando e recriando, por isso, esperando de nós orações e ações bem concretas e inspiradas na realidade do mundo em que vivemos.

Qual foi a sensação de estarmos criando um boneco de argila?

Este boneco, criação nossa, é o nosso espelho?

O sacramento do Crisma não é apenas mais um sacramento, mas é o sacramento que fortalece o nosso espírito no Espírito d’Ele. Faz parte dos Sacramentos da Iniciação Cristã: Batismo, Eucaristia e Crisma (Confirmação).

No Batismo, como nos lembra a Tradição da Igreja, somos incorporados ao corpo eclesial que tem como cabeça Jesus de Nazaré, divinamente humano, humanamente divino. Na Eucaristia, vivemos o memorial do Cordeiro de Deus: “Este é o meu corpo e o meu sangue, comam e bebam, em minha memória”. No Crisma, o Espírito sopra um hálito de vida, revigorando a nossa vida na vida de tantos irmãos e irmãs, local e globalmente ligados a nós na Vida d’Ele.

Mulher e homem, imagem de Deus... Nas palavras do teólogo Leonardo Boff: “seria um pai maternal e uma mãe paternal”... Em clara sintonia com o mundo, com todos os seres vivos... Nós somos terra...somos parte da terra...por isso, devemos saber cuidar de tudo que no Planeta Terra foi criado. Morrendo o Planeta, morremos todos.

O Senhor é o Deus da Vida...

Vida em abundância para todos, para todas, indistintamente.

Por causa do que o Senhor criou e somos suas testemunhas, podemos proclamar que não só acreditamos em Deus, mas sentimos Deus!

CANTO

Vocação – Padre Zezinho, sjc.

A PALAVRA DO SENHOR

Mc 1, 16 – 21; 2, 13 – 14; 3, 13 – 19.

O/A Leitor/a deverá proclamar a leitura de forma segura, transmitindo ternura e carinho, com a voz suave, de preferência tocando em cada um, em cada uma, (no ombro, nas mãos, na cabeça, andando ao redor deles) no momento em que o próprio Jesus convida seus discípulos. Os participantes devem se sentir chamados, convidados, convocados pela leitura a viverem o sacramento do Crisma.

REFLETINDO JUNTOS II

[Quem anima oriente a refletirem no silêncio. Se for preciso repetir a leitura, que o faça. Depois convidem a todos/as a falarem em uma frase ou uma palavra o que a leitura impulsiona a fazer. Levar os/as participantes a descobrirem o sentido profundo das ações de Jesus na leitura. Deixe o tempo livre para a reflexão, valorizando a participação de todos/as.]

AVALIAÇÃO DO ENCONTRO

O que mais lhe motivou no encontro de hoje, lhe fará retornar no próximo? Explique.

Nós acreditamos mais em Deus ou sentimos mais a Deus?

NOSSO COMPROMISSO

O tema de nosso encontro de hoje foi: “Você foi escolhido/a pelo Senhor”. E agora, quando estamos nos despedindo e voltando para nossos lares, como é que esta predileção do Senhor por nós está falando ou gritando em nossos corações?

Qual é o compromisso que cada um, cada uma de nós podemos assumir na prática durante toda esta semana? [Tempo para pensar.]

Jesus chamou os seus discípulos, e continua nos chamando hoje ainda; por isso vocês estão aqui...Sugerimos que vocês releiam a leitura deste encontro e durante a semana procurem perceber na comunidade, aquela equipe, aquela pastoral, aquele movimento, em que você possa se identificar. Conversar com as lideranças sobre como funcionam as equipes que participam e se envolvam, pois a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos.

DESPEDIDA

Quem anima se despede e faz despedir com muitos abraços e desejos de uma ida e uma volta sempre na certeza que somos filhos, filhas, amados/as pelo Senhor.

E abraçados em círculo, escutam no silêncio o seguinte pensamento:

“Quando mergulhamos no inferno existencial da solidão e nos sentimos marginalizados e excluídos. Ele nos sussurra: ‘Eu estou contigo’.

Quando ficamos abatidos pela perversão da humanidade, pelas chagas infligidas à Mãe Terra, pelas águas que contaminamos, o solo que envenenamos, o ar que poluímos, Ele suscita em nós um amor redobrado a tudo que existe e vive.

E quando nos sentimos prostrados, sem vontade de viver e de estar com os outros, Ele nos convida: ‘Vem à minha casa e repousa e refaz as forças e experimenta como é suave meu amor’.”

Leonardo Boff

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Este roteiro é para ser usado pelos grupos de jovens e pelas lideranças juvenis que servem à comunidade na Pastoral da Crisma.

O encontro não está de maneira alguma encerrado, pode ser ampliado e revisado. Contudo, peço, que me enviem tais ampliações e revisões pelo email abaixo.

Quando forem usar este roteiro, sempre, citem a fonte.

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Emerson Sbardelotti

Estudante do curso superior de Teologia no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – ROTEIROS PARA ACAMPAMENTOS E REUNIÕES DE GRUPOS DE JOVENS. Brasília: CPP, 2005.

Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.

Os demais roteiros estarão disponíveis no blog do autor:

http://omisterioeautopia.blogspot.com/

e no blog do ICJ- Instituto Capixaba de Juventude:

http://icjinstitutocapixabadejuventude.blogspot.com/

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O RESPEITO AO DIFERENTE


O RESPEITO AO DIFERENTE

Vivemos numa sociedade localmente globalizada, onde nossas ações, experiências e vivências são globalmente locais.
Vivemos numa sociedade em que o pluralismo cultural e religioso dita a moda, a mídia e tudo o mais que se relaciona com o agir do ser humano. Eles se impõem, independente se você aceita ou não.
O meu e o seu ponto de vista deveria ser sempre a vista de um ponto.
Mas, infelizmente, não é assim que as coisas funcionam nesta sociedade em que o fundamentalismo religioso, o preconceito, impede o respeito, o encontro e o debate com o outro, com o diferente.
Como é possível viver uma religião, se esta e seus interlocutores não religam a terra com o céu, o profano com o sagrado, o corpo com a alma, o homem e a mulher?
Como é possível viver uma religião, se esta e seus pastores e padres não se sentem à vontade para dialogar com sinceridade e fraternura? E passam para seus rebanhos que o outro não está salvo por crer diferente, que é herege, infiel e diabólico!
Revisar a vida é um passo muito importante, mas quem hoje em sã consciência tem coragem para admitir os próprios erros? Sem que estes erros sejam usados nos programas religiosos das madrugadas na TV para aguçar o emocional humano psicologicamente perturbado, por isso, aberto a qualquer investida paliativa do sagrado.
Foram 20 séculos de exclusivismo cristão. Foram dois mil anos em que o cristianismo tem pensado – local, global, oficial e majoritariamente – ser a única religião verdadeira, enquanto todas as outras religiões seriam falsas.
Há religiões muito mais antigas que o cristianismo!
Há conceitos éticos e morais, muito mais acessíveis do que a ética e a moral cristã.
Cristo era cristão?
Ele não conviveu com pessoas diferentes e suas diferenças no seu tempo?
Onde estão os profetas e as profetisas, onde estão as discípulas e os discípulos que anunciam e denunciam?
A profecia morreu?
Como podemos entender o grito, o choro e o lamento dos primeiros habitantes da Nossa América, que ao atualizarem o memorial-fonte, relembram, com lágrimas e dores as violências cometidas pelos europeus?

“Nós índios dos Andes e da América, decidimos aproveitar a visita de João Paulo II para devolver-lhe sua Bíblia, porque em cinco séculos ela não nos deu nem amor, nem paz, nem justiça. Por favor, tome de novo sua Bíblia e devolva-a a nossos opressores, porque eles necessitam de seus preceitos morais mais do que nós. Porque desde a chegada de Cristovão Colombo, impôs-se à América pela força uma cultura, uma língua, uma religião e valores próprios da Europa. A Bíblia chegou a nós como parte do projeto colonial imposto. Ela foi a arma ideológica desse assalto colonialista. A espada espanhola que de dia atacava e assassinava o corpo dos índios, de noite se convertia na cruz que atava a alma índia”. [1]

Os povos indígenas estão errados ao fazerem este lamentoso, sentido e verdadeiro pedido ao Papa? Se estão errados, qual é este erro? Como ler a Bíblia se ela foi usada para matar seres humanos? De que outra forma expressariam sua vontade de serem livres, por séculos aprisionada e assassinada?

O poeta sente e pensa diferente. Por isso muitas vezes não é compreendido e a perseguição velada ou explicita acontece e ele adoece por não conseguir compreender por que é difícil aceitar o outro? A única forma que possui para se fazer ouvir vem em forma de palavras, comovidas e ácidas:

CONVIVER COM A DIFERENÇA [2]

o grande desafio do mundo
é conviver com a diferença
de aromas, texturas, sons e cores
sabores que no profundo ou nas alturas
deveriam encantar as pessoas

infelizmente nem todas
conseguem aceitar
aquilo que a princípio assusta
ver o sol a partir de tantos olhares
é ver o belo no diferente

e se nos fazem sangrar e jorrar
só terão como resposta o vermelho
no chão, nossas sombras são iguais
seremos sementes e flores nos quintais
já não terá valor aquele espelho

a grande opção é viver em harmonia
descobrindo a partir das duras derrotas
que cada um, cada uma, é companhia
na edificação do outro mundo possível
aprendendo e ensinando sempre uma nova rota

Como fazer acontecer o diálogo inter-religioso e ecumênico, se todas as mudanças são vistas como heresias e deturpações da ordem já estabelecida?
As mudanças não são também sopro do Espírito? Não são vontades do próprio Deus?
Apressadamente se julgam as pessoas que trabalham na construção de um outro mundo possível, esquecendo-se que há lugar para todos.
Lembro-me de uma parábola contada pelo querido amigo carmelita Frei Carlos Mesters, no final da década de 1990 e que até hoje, rende para o próprio, adjetivos, como: herege, infiel, lobo vermelho, padre comunista, entre outros. Mas quem o acusa não se esforça para saber qual foi o contexto em que a parábola foi escrita, qual foi a contribuição do autor para a caminhada da Igreja no Brasil e no Continente. É muito fácil somente acusar, levantar falsos testemunhos e dizer que nada do que escreve não presta...podemos pensar que a inveja é muito maior do que qualquer outro sentimento.
Quando há respeito, há o encontro e há o diálogo. É uma via de mão-dupla. É um caminho árduo, mas não impossível. Mesters já deu um passo significativo nesta direção, sem abrir mão de sua fé. Pelo contrário, sempre dialogou chegando primeiro com um sorriso e depois com um abraço bem apertado. Sempre se manteve fiel às suas convicções enquanto carmelita, enquanto parte do Magistério e do Povo desta Igreja. Eis a parábola:

UMA PARÁBOLA [3][4]
Quando Deus andou no mundo, a São Pedro disse assim:

Certa vez, Jesus reuniu os discípulos e as discípulas e disse: “Quando você forem anunciar o Reino, não devem levar dinheiro nem comida, mas devem confiar no povo. Chegando num lugar, se vocês forem acolhidos e o povo partilhar comida e casa com vocês, e se vocês participarem da vida deles trabalhando e tratando dos doentes e do pessoal marginalizado, sem voz nem vez, então podem dizer ao povo com toda a certeza: “Gente! Olhe aqui! O Reino chegou! Está chegando!”. E eles foram.
Jesus também foi. Andou, andou. Já era quase noite. Estava começando a escurecer, quando chegou num terreiro. O pessoal que entrava, saudava e dizia: “Boa Noite, Jesus! Sinta-se em casa. Participe com a gente!”. Jesus entrou. Viu o pessoal reunido. A maioria era pobre. Alguns, não muitos, da classe média. Todo o mundo dançando, alegre. Havia muita criança no meio. Viu como todos eles se abraçavam entre si. Viu como os brancos eram acolhidos pelos negros como irmãos. Jesus, ele também, foi sendo acolhido e abraçado. Estranhou, pois conheciam o nome dele. Eles o chamavam de Jesus, como se fossem amigo e irmão de longa data. Gostou de ser acolhido assim.
Via também como a mãe-de-santo recebia o abraço de todos e como ela retribuía acolhendo a todos. Viu como invocavam os orixás e como alguns vinham distribuindo passes para ajudar os aflitos, os doentes e os necessitados. Jesus também entrou na fila e foi até a mãe-de-santo. Quando chegou a vez dele, abraçou-a e ela disse: “A paz esteja com você, Jesus!”. Jesus respondeu: “Com a senhora também!”. E acrescentou: “Posso fazer uma pergunta?”. E ela disse: “Pois não Jesus!”. E ele disse: “Como é que a senhora me conhece? Como é que eles sabem o meu nome?”. E ela disse: “Mas Jesus, aqui todo o mundo conhece você. Você é muito amigo da gente. Sinta-se em casa, aqui no meio de nós!”.
Jesus olhou para ela e disse: “Muito obrigado!”. E continuou: “Mãe, estou gostando, pois o Reino de Deus já está aqui no meio de vocês!”. Ela olhou para ele e disse: “Muito obrigada, Jesus! Mas isto a gente já sabia. Ou melhor, já adivinhava! Obrigado por confirmar a gente. Você deve ter um orixá muito bom. Vamos dançar, para que ele venha nos ajudar!”. E Jesus entrou na dança. Dentro dele o coração pulava de alegria. Sentia uma felicidade imensa e dizia baixinho: “Pai eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste ao povo humilde aqui do terreiro. Sim, Pai, assim foi do teu agrado!”. Dançou um tempão. No fim comeu pipoca, cocada e batata assada com óleo de dendê, que o pessoal partilhava com ele. E dentro dele, o coração repetia, sem cessar: “Sim, o Reino de Deus chegou! Pai, eu te agradeço! Assim foi do teu agrado!”

Fico imaginando que além desta proposta de colocar Jesus no encontro e no diálogo com as Religiões Africanas, podemos também colocá-lo no encontro com Muhammad e o Islamismo, no encontro com Siddhartha Gautama e o Budismo, no encontro com Kung-Fu-Tse e o Confucionismo, no encontro com todas as Religiões Indígenas, entre tantas outras, sem denegrir a ética, o amor, a mensagem, a humanidade e a divindade de Jesus, pois ele mesmo se colocava nesta direção quando iniciava colóquios com o centurião romano, com a cananéia, com a samaritana...ele não deixou de ser judeu para anunciar uma vida em abundância para todos.
Qual é o medo de convivermos com o diferente?
Qual é o medo que se tem em dialogar numa sociedade que é plural?
Jesus é fruto de uma particularidade histórica que caminha para a universalidade salvífica:
“O primeiro pressuposto é partir da particularidade histórica e geográfica de Jesus de Nazaré para chegar a universalidade do Cristo da fé. Nem as primeiras comunidades, nem os apóstolos tiveram conhecimento imediato de que em Jesus Cristo acontecia a revelação definitiva de Deus. Para eles, Jesus de Nazaré era um bom judeu, praticamente piedoso, reformador de práticas judaicas que diziam respeito à lei e ao templo. Em sua proposta significativamente revolucionária em termos religiosos e, a partir daí, sociais, políticos e culturais, eles perceberam que esse evento dizia respeito não somente ao entorno judaico, mas devia ser levado ao conhecimento e ao seguimento de todos os seres humanos.
Fora dessa particularidade histórica, geográfica, profundamente humana, de Jesus de Nazaré, o cristianismo transforma-se em idéia, ideologia, símbolo; o próprio Cristo torna-se mito. Como se sabe, idéias e ideologias que não estejam baseadas em práticas só conseguem impor-se pela força da razão e do poder. Elas não somente impedem o acesso às práticas, mas as encobrem e mascaram. Práticas, ao contrário, não se impõem; elas valem por si, como testemunho; são frutos da experiência, referem-se diretamente ao chão da existência. Analogamente, os símbolos que não estejam enraizados na realidade perdem seu significado, seu conteúdo, tornam-se magia. Esse é o risco constante do cristianismo: fora da pessoa e da prática de Jesus, transmuda-se em puro símbolo e magia, pura idéia e ideologia. Magia que desconecta a fé da realidade, tirando-lhe o vigor transformador e libertador. Ideologia que aliena a fé, justificando atitudes e instituições opressoras. O cristianismo, para anunciar a verdade salvífica de Cristo, deve referir-se constantemente à pessoa e à prática de Jesus. Sem Jesus, não há Cristo. É de Jesus, de sua particularidade histórica, que deve partir sempre a cristologia. Sobretudo em seu diálogo com as outras religiões.
Quando, no diálogo com as religiões, tomamos como ponto de partida a universalidade de Jesus Cristo, como Deus feito homem, morto e ressuscitado para a salvação de todos os seres humanos, uma universalidade que normalmente encobre sua particularidade histórica, geográfica, cultural, social, política, etc., somos imediatamente levados a impor nossa concepção religiosa sobre os outros. Partimos do pressuposto de que já temos toda a verdade, de que devemos, portanto, anunciá-la aos outros. O cristianismo cometeu graves pecados em sua história, por causa dessa concepção não-cristã de verdade e de prática evangelizadora, pecados pelos quais hoje freqüentemente acusados e dos quais somos convidados a pedir perdão, conduzidos pela sábia decisão de João Paulo II. Há de se ter em mente que a verdade de Cristo é a obra de Deus, e não conquista humana, é dom de Deus a ser partilhado, e não imposto. Por isso, torna-se necessário impostar a reflexão cristológica para o diálogo inter-religioso dentro de uma “humildade soteriológica” que retome a singular humanidade de Jesus.
Além disso, os cristãos de hoje são levados à preguiça e à indiferença se desconhecem que a universalidade da pessoa e da ação de Cristo se manifestou para nós numa particularidade situada e que foi sendo aos poucos explicitada pelos primeiros grandes teólogos do cristianismo, em penoso trabalho de reflexão teológica, de ação pastoral e de evangelização inculturada. Recebemos a verdade pronta, acabada, julgando que basta agora impô-la à força. Cruzam-se os braços, julgando que a obra da inculturação do Evangelho terminou com a tomada do Império Romano, com a cristianização de toda a civilização ocidental, com a conquista das maiorias para o rebanho da Igreja. Esquece-se que os primeiros tempos do cristianismo apresentaram a verdade do Evangelho tendo em conta o respeito por dois flancos de realidade: a particularidade situada de Jesus de Nazaré e as particularidades culturais, lingüísticas, filosóficas etc., igualmente situadas, nas quais o Evangelho ia sendo semeado.
Urge, portanto, partir da humanidade particular, concreta e empírica de Jesus de Nazaré para chegar à divindade de Jesus Cristo e à pretensão de seu significado universal. Nem os apóstolos, nem as primeiras comunidades cristãs experimentaram de modo explicito o encontro com a divindade em Jesus de Nazaré. De certa maneira, o próprio Jesus de Nazaré não sabia que era Deus. Foi no encontro com as obscuridades da vida e no diálogo amoroso e religioso com o Pai, que Jesus foi se dando conta de sua missão messiânica e de sua identidade divina”. [5]

E aí pode-se perguntar: por que a teologia é necessariamente pluralista?
Primeiro, pois o Mistério da fé é transcendente, superando infinitamente todo entendimento humano e não se esgotando jamais numa única forma de interpretação. Segundo, pois esse mesmo entendimento teológico é sempre contextual: está situado sem escapatória dentro de uma cultura determinada, sendo que o campo cultural é justamente o campo das variedades.
O pluralismo teológico é legítimo, necessário e inevitável.
O respeito ao diferente é legítimo, necessário e inevitável se você quer continuar acreditando e professando sua fé.


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[1] VIGIL, José Maria. Teologia do Pluralismo Religioso – para uma releitura do cristianismo. São Paulo: Paulus, 2006.
[2] TAVARES, Emerson Sbardelotti. Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007.
[3] NONO Encontro Intereclesial. São Paulo: Salesiana, 1996.
[4] CÍRCULOS Bíblicos. Sub-Regional do Espírito Santo: 1997.
[5] FELLER, Vitor Galdino. O Sentido da Salvação – Jesus e as religiões. São Paulo: Paulus, 2005.

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Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Estudante do Curso Superior de Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.