quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"QUANDO COMEÇAR A ACONTECER TUDO ISSO, ERGUEI-VOS E LEVANTAI A CABEÇA POIS SE APROXIMA A VOSSA SALVAÇÃO"

ICJ/ES – INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA


1º. DOMINGO DO ADVENTO – 29.11.2009


“QUANDO COMEÇAR A ACONTECER TUDO ISSO, ERGUEI-VOS E LEVANTAI A CABEÇA POIS SE APROXIMA A VOSSA SALVAÇÃO ”


“Da terra tão seca já brota uma flor, afagando prantos e gritos de dor. Correntes se quebram, as cercas tombando, uma nova era da história brotando – Manoelão - Cd O Canto das Comunidades – Paulinas”.


Para início de conversa


O Evangelho de Lucas inicia neste domingo a esperança da vinda do Senhor e o Ano C da Liturgia Católica. Lucas não conheceu pessoalmente Jesus, mas sendo discípulo e companheiro de viagem de Paulo, se impressionou com o rosto do Ressuscitado que este trazia consigo após o encontro no caminho de Damasco. Enquanto historiador, descobriu o Cristo no recém-nascido de Belém, no menino dialogando no Templo com os doutores da lei, no profeta que orientou toda sua vida para a morte na cruz em Jerusalém. Lucas impressionou-se com a humanidade do Senhor em Jesus. Seu evangelho irradia a alegria do Senhor em salvar todos os seres humanos. O terceiro Evangelho é atribuído por Irineu de Lião, em 180 E.C., ao parceiro e discípulo do apóstolo Paulo, desde o século II e tem várias características: é objeto de estudo mais complicado do que o de Marcos, ele é produto de um artista literário mais consciente, um homem que escreve em um grego excelente e é capaz de adaptar o estilo à situação, que faz uma narrativa perfeitamente coesa e se dirige a um público capaz de apreciar tais qualidades. O Evangelho de Lucas é o testemunho da passagem do mundo palestino para o mundo helenístico; e ele tem a pretensão de mostrar Jesus e a missão dos apóstolos. Lucas é um cristão gentio de Antioquia, culto e de perspectiva cosmopolita, historiador atento aos seus personagens, que tem um inevitável interesse nas mulheres que seguem ou que se encontram no caminho de Jesus, são apresentadas com grande simpatia. Sua narração tem um caráter particular, uma vez que os acontecimentos relatados são em sua visão, intervenções do Senhor. Lucas escreve uns vinte anos depois da morte de Paulo e não deve ser situado depois dos anos 80-90 E.C.; está em concordância com as datas das viagens de Paulo, entre 55-60 E.C., aproximadamente.
A palavra Advento, foi tirada do vocabulário pagão, e significa chegada ou vinda. É o tempo anterior ao tempo do Natal em preparação à vinda do Senhor; é baseado na espera da vinda do Reino onde a nossa atitude básica é acender as velas do animo e do desejo de sermos de fato discípulos/as - missionários/as.
A Liturgia Católica no Ocidente, nas duas primeiras semanas do Advento, acentua a espera da segunda vinda do Mestre de Nazaré no final dos tempos. Nas duas semanas que faltam, enfatiza-se a preparação pessoal e comunitária para a solenidade do Natal: Maranatha! Vem, Senhor Jesus!
Como dizia minha avó Lavigna: “O melhor da festa é esperar por ela”.

Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Lc 21, 25-28.34-36.


No Evangelho de hoje, Lucas utiliza o gênero literário apocalíptico, uma corrente de pensamento e uma literatura surgida em Israel entre os anos 200 a.E.C. e 100 E.C. A apocalíptica é filha e herdeira da profecia. Ela funciona como literatura de resistência. Este gênero não quer falar de coisas que vão acontecer num futuro próximo, mas do presente de nossa existência. É uma linguagem para tempos de grande dificuldade e perseguição, cuja a finalidade é animar as comunidades, as de ontem e as de hoje, para a denúncia profética e para a resistência a tudo o que se opõe a defesa da vida e ao projeto do Senhor em Jesus.
Ao escrever o seu Evangelho, Lucas tem em mente a destruição de Jerusalém ocorrida no ano 70 E.C. que já havia ocorrido, mas as lembranças da matança estavam bem frescas nas mentes e nos corações do povo judeu; mas a impressão que temos ao ler o texto de hoje, é que todas estas coisas estão para acontecer. O fim de Jerusalém não é o fim do projeto do Senhor. O Evangelho não quer apontar o fim dos tempos, até porque, só o Senhor sabe quando será este fim, mas quer nos chamar dentro da história de vida de cada um, cada uma, para que possamos levantar nossas cabeças e ficarmos de pé, pois a libertação se aproxima.
Todos os sinais e símbolos que aparecem no texto são sinônimos da presença do Senhor em favor dos pequeninos, dos injustiçados e de seus aliados. É a própria ação do Senhor na história. E todos que se opõem ao projeto do Senhor na defesa e manutenção da vida em abundância serão julgados, por isso verão o Filho do Homem em seu poder e glória. Quem rejeita hoje as propostas do Reino serão julgados.
Em contrapartida, a vinda do Filho do Homem é salvação para quem está preso a um sistema que explora, que aliena e mata o ser humano em sua dignidade. A libertação é o resgate que o Mestre pagou com o seu sangue na cruz. Por isso os inocentes ficarão de pé e de cabeças erguidas verão a vitória. Mas nada disso acontecerá se não aumentarmos e fortalecermos a vigilância enquanto discernimento do que leva ou não ao projeto do Senhor. Somente com lucidez, senso crítico em relação à sociedade e aos fatos reais da história, é que as pessoas experimentam a presença do Senhor agindo a nosso favor.
A oração é a responsável pela força da vigilância.
Orar sempre, mesmo que seja apenas meia hora por dia. Que cristão eu sou, que liderança de comunidade e na paróquia eu sou, se eu não oro, se não escuto o que o Senhor tem a me dizer, a me pedir, a me sugerir, como proposta de transformação do mundo?
O que estamos fazendo de concreto em nossas equipes, ministérios, pastorais e outros serviços na comunidade, que nos levam a uma vigilância fraterna, serena e responsável?
É a ternura do Senhor da vida que nos coloca de pé diante dela, e por isso somos jogados em sua defesa a qualquer custo. É esta ternura divinal que nos alenta e abre novos caminhos, e fortalece a nossa fé frente aos desmandos dos donos do poder, frente a todas as formas de violência que testemunhamos dia após dia. Muitas vezes ficamos em silêncio, mas não estamos calados. Muitas vezes a chama fica fraquinha, mas ela não se apaga.
Maranatha!

Emerson Sbardelotti

Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Estudante do Curso Superior de Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Msn: emersonpjbes@hotmail.com
Blog: http://omisterioeautopia.blogspot.com/
Ilustração de Maximino Cerezo Marredo: http://servicioskoinonia.org/cerezo/

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