sábado, 7 de fevereiro de 2009

"VAMOS ÀS ALDEIAS VIZINHAS, PARA PREGAR TAMBÉM AÍ, POIS VIM PARA ISSO."

ICJ/ES - INSTITUTO CAPIXABA DE JUVENTUDE / ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

NOSSA ESPIRITUALIDADE BÍBLICO-LITÚRGICA

5º. DOMINGO DO TEMPO COMUM – 08.02.2009

“VAMOS ÀS ALDEIAS VIZINHAS, PARA PREGAR TAMBÉM AÍ, POIS VIM PARA ISSO.”

“Vejam, do meu Pai, a vontade, eu cumpri passo a passo. Foi pra isso que eu vim. Dores, enfrentei a maldade, mesmo frente ao fracasso, eu mantive o meu sim.” José Thomaz Filho & Frei Fabreti – CD Missas – Paulinas.


Para início de conversa
No Evangelho deste domingo encontramos Jesus saindo da sinagoga, num sábado, e indo se hospedar na casa de Simão e André. A sogra de Simão, segundo o texto, estava de cama com febre. O povo do tempo de Jesus acreditava que a febre, como qualquer outra doença, tinha origem demoníaca, coisa terrível, que imobilizava as pessoas, deixando-as paradas, desligadas do que estava acontecendo ao redor. Se na sinagoga um homem se torna testemunho da presença do Reino em Jesus, agora, por intervenção dos discípulos em favor da sogra de Simão, uma mulher recebe a presença do Reino nela, e na casa onde mora. Jesus não discrimina. Ele se aproxima, toca em sua mão e a levanta. Essa é a novidade do Reino: o Deus de Jesus se aproxima do povo pobre, simples, excluído, maltratado e doente e o toca...com carinho, com compaixão, com querença...e o levanta. A sogra de Simão é a primeira mulher a ser beneficiada pelo poder curador de Jesus, transmitido pelo contato da sua mão. Jesus é aquele que se associa às pessoas, fazendo-as caminhar com as próprias pernas, tornando-as sujeitos do próprio agir e da própria história. E o texto é claro: “A febre passou e ela se pôs a servi-los.” É bom lembrar que naquele tempo, doente e endemoniado se tornavam sinônimos, pois devem ser vistos a partir de uma cultura que não tinha medicina desenvolvida e interpretava todo tipo de mal ou de diabólico com conceitos religiosos. Mesmo com todo o desenvolvimento científico e com as conquistas de hoje, é preciso ter a consciência de que a saúde é um bem e que todos devem a ter em abundância; e que a doença é um mal que deve ser vencido com a união de toda a sociedade. Nós ainda hoje temos doenças curáveis matando pessoas que não têm acesso a remédio, hospital, saneamento básico, alimentação saudável.Lembro-me do lançamento do livro Mística e Espiritualidade, de Leonardo Boff e Frei Betto, e de uma frase deste último que me deixou bastante inquieto: “Enquanto as pessoas dos países mais desenvolvidos do Planeta lutam para fazerem valer os direitos humanos, nós, aqui no Brasil, na Nossa América, nos países empobrecidos, estamos lutando pelos direitos animais...comer, beber, se vestir.” Até quando irá perdurar esta situação?Jesus levanta a sogra de Simão; levanta todo o povo que andava doente. Jesus devolve a dignidade para aquela mulher que se colocou a serviço do Reino imediatamente. Essa é a novidade do Reino: não se consegue ficar parado, admirando o fato, pelo contrário, para testemunhar a libertação deve-se colocar a serviço do libertador que toca, cura e salva tocando. Um toque com amor pode mudar a nossa vida para sempre. Um toque pode fazer com que todos, todas, de forma consciente e humilde possam construir com mais garra, uma sociedade fraterna e justa, onde ninguém morra por causa de doenças curáveis, das filas nos hospitais e do descaso das autoridades políticas com a saúde do seu povo.O que tudo isso significa para os discípulos que estão no inicio da sua caminhada com Jesus? E para nós discípulos e discípulas, povo de Deus? O que aprendemos com todos estes sinais? Jesus nos ensina a agir: tocar as pessoas, tomar os doentes pela mão e ajudá-los a levantar. Como tem sido esta nossa ação na comunidade? Como tem sido experimentar nas conquistas da comunidade e do povo, a sensação de sermos erguidos por Jesus? Temos passado isso adiante?
Contextualizando a vida com o Evangelho do Dia do Senhor – Mc 1, 29 - 39.

Na frente da casa de Simão, à beira da porta, doentes e possuídos esperam ser tocados por Jesus, esperam ser erguidos por ele, para que possam servir com dignidade ao Reino. E ao entardecer daquele dia, quando o sol se pôs, muitas pessoas foram levadas até ele. O tema do silêncio aos demônios que possuíam as pessoas retorna. Falar quem ele é leva maturidade e aprendizado na fé, na adesão à boa nova; isso só terá resultado depois que o discípulo abraçou para ele a mesma herança do Mestre: a cruz. Jesus será mais feliz em casa e irá provocar conflitos na sinagoga, será assim por todo o Evangelho de Marcos, o que lhe renderá acusações e a decretação de sua morte. O texto nos diz que Jesus se levanta de madrugada, se dirige para um lugar despovoado e ali orou. Ele não se julga tão completo e forte a ponto de dispensar uma conversa íntima com o Pai. Oração é como a tomada que nos liga à força de Deus. Todos, todas nós, precisamos da oração. Oração é apenas oração. Oração não é prece, nem louvação. Oração não é ação. O serviço não é oração. A luta pelo Reino não é oração. Oração é apenas oração. Ele se afasta para poder rezar, para manter viva a comunhão com o projeto do Pai, que é diferente do projeto da sinagoga, do rei Herodes, do Império Romano. O texto não diz o que Jesus orou, mas o fez no início do novo dia, o domingo, o dia de sua atividade libertadora. Mas podemos dizer que para a oração só podemos levar aquilo que somos, para que Deus nos ajude a ser cada dia melhores sem pisar ou querer o mal do outro. Para conversar com Deus não é preciso falar, mas, escutar/auscultar Deus. Ele tem muitas coisas para nos dizer hoje em dia, pena que só estamos acostumados a ouvir e não a escutar. O Evangelho insiste em mostrar a dureza no coração dos discípulos, que querem fazer de Jesus uma figura popular e poderosa. Jesus vence a tentação de ser popular pois compreende em seu coração que o caminho da libertação passa pela entrega total da vida na cruz. Cafarnaum fica para trás. A Galiléia agora é o palco de sua pregação, irá a todos os lugares, irá conversar, sorrir, pescar, se emocionar, até estar totalmente pronto para o fim de sua missão e se encaminhar para Jerusalém: a cidade que mata os profetas. É a conseqüência do compromisso assumido com sinceridade. A urgência é evangelizar. Evangelizar é um serviço e não um título de glória ou palanque eleitoreiro. Jesus se preocupou em evangelizar falando para os que tinham estudos e para os mais simples, aprendeu com estes a entender um pouco mais a vida.

Emerson Sbardelotti
Autor de O MISTÉRIO E O SOPRO – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Autor de UTOPIA POÉTICA. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do Grupo de Assessores da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário